hummingbird with the heart of a whale

Venha o diabo e escolha

Todos os anos, em Setembro, vive-se o mesmo fenómeno em Portugal. Aquele fenómeno que se segue à paragem do país para férias em Agosto. O fenómeno insano das colocações de docentes nas escolas. Ninguém percebe, nem mesmo os professores, pelo que me é dado a observar, este surreal e triste fenómeno.
Esse tempo aproxima-se. Aquele período em que vemos um professor de Chaves, casado e pai de três filhos menores, a ser colocado em Sagres. O mesmo período em que vemos um professor de Sagres (coincidência!) a ser colocado em Chaves. O mesmo período em que ninguém percebe porque é que os filhos não podem continuar com o mesmo professor. Aquele período em que (estranhamente) os sindicatos não apresentam alternativas plausíveis ao actual sistema centralizado, pesado e claramente injusto e alegam que o Estado é uma espécie de mega centro de emprego que tem de arranjar emprego aos ditos professores, mesmo que não precisem deles*. Aquele período em que toda a gente se apercebe que há mais professores do que seria necessário.
Vários jornais que por aí circulam dizem que 15 a 20% das 121 599 submissões de candidaturas estão inválidas. Dizem os mesmos diários que os erros desses professores são de pequena dimensão e fáceis de resolver. Só não dizem quantos desses 121 599 candidatos é que são professores. Não o dizem porque não o podem fazer. Eu aqui no meu canto, estou curiosa, muito mesmo e gostava de saber quantos desses candidatos são sequer profissionalizados. Teríamos de fazer contas (outra desgraça deste país e de muitos pseudo-professores). Haveria então que subtrair aos 121 599 candidatos, os candidatos-a-poleiros-de-ensino não profissionalizados, ou seja, aqueles que não têm qualquer formação pedagógica para leccionar. Sobrariam então os diplomados em ensino. Se a estes retirássemos os que fizeram as licenciaturas “porque tens no máximo 25 horas lectivas por semana e depois podes ir para casa, ver montras, ou outra qualquer actividade que te faça esquecer aqueles-múdos-mal-comportados-e-burros-que-tens-ouvir-todos-os-dias; desde que compres muitas fichas não precisas de perder muito tempo a preparar aulas; até não ganhas mal; …” ficaríamos com os professores. Aí o nosso país entraria em crise e teríamos um enorme escassez de docentes. Era uma chatice.

Uma sugestão do Ademar, com a qual concordo. Pelos professores que temos e que muito admiro:

Uma escola de portas abertas, em que os professores aceitam, diariamente, o escrutínio da avaliação dos olhares externos, é um marco civilizacional. Eu, se fosse ministro da educação, obrigava as escolas, todas as escolas, a receber e a acolher os visitantes. As aulas seriam "abertas". Tenho a certeza de que os professores incompetentes, rapidamente, desertariam da profissão.

Vai uma aposta?


*Em vez de lançarem propostas que visem a melhoria do actual estado-de-desgraça do ensino, sobre o qual se tem lançado dinheiro de forma desordenada, como quem lança nozes a alguém que não tem dentes nem placa.
Algumas propostas a serão deixadas neste blog assim que houver mais dois minutos de recreio.

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a doceira (mail)

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