Fogo preso*
Quando se ateia em nós um fogo preso,
o corpo a corpo em que ele vai girando
faz o meu corpo arder no teu aceso
e nos calcina e assim nos vai matando
essa luz repentina
até perder alento,
e então é quando
a sombra se ilumina,
e é tudo esquecimento,
tão violento e brando.
sacode a luz o nosso ser surpreso
e devastados [nós] vamos a seu mando,
nessa prisão o mundo perde o peso
e em fogo preso [à noite] as chamas vão pairando
e vão-se libertando
fogo e contentamento,
a revoar num bando
de beijos tão sem tento
que não sabemos quando são fogo, ou água, ou vento,
a revoar num bando
de beijos tão sem tento,
que perdem o comando
do próprio esquecimento
Vasco Graça Moura
* Fogo preso no disco "Drama box" da Mísia. Ela e as suas drama queens
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